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"Casão - Num Jogo Sem Regras" conta a história do ex-jogador Walter Casagrande Júnior

A trajetória emocionante do ex-jogador e comentarista Walter Casagrande Júnior, o Casão, disponível em documentário no Globoplay / Divulgação


O documentário “Casão – Num Jogo Sem Regras” está disponível no Globoplay. Ao longo de quatro episódios e ao som de muito rock and roll, a obra navega cronologicamente pela trajetória do ex-jogador e comentarista, Walter Casagrande Júnior, fazendo um paralelo com a história do país em cada época. 

Dirigido por Susanna Lira, com roteiro de Bruno Passeri e Roberto Passeri, o documentário conta com depoimentos de nomes como Galvão Bueno, Roberto Rivellino, Baby do Brasil, Juca Kfouri, José Trajano, dos três filhos de Casão, entre outros. 

A infância de Casagrande na periferia de São Paulo; o alcoolismo do pai; a reflexão sobre a condição da mulher; a morte precoce da irmã mais velha; a rebeldia em tempos de Ditadura Militar; o início promissor no futebol; e a briga que o afasta do Corinthians marcam o primeiro episódio. 

O segundo capítulo trata da primeira experiência de Casagrande longe de casa; o luto se convertendo em força motriz; a paixão arrebatadora por Mônica; a ascensão como um centroavante de Seleção Brasileira; e o início de uma era histórica: a Democracia Corinthiana. Também aborda a relação fraternal com Sócrates e com ícones da música brasileira.  

O episódio seguinte apresenta a experiência do jogador na Europa; a saudade do Brasil; a paternidade e o fim da carreira no futebol. Por último, o foco é o mergulho de Casagrande nas drogas, os problemas que passam a assombrá-lo constantemente; a internação compulsória; a relação com Baby do Brasil; a espiritualidade; a morte de Sócrates; e a volta por cima.

Entrevista com Walter Casagrande Júnior, o Casão 

Como você recebeu a ideia do documentário?
Em 2018, eu estava no Rio de Janeiro para fazer os programas do Sportv e a Suzanna Lira me ligou falando que estava com a ideia de fazer um documentário sobre minha vida. Marquei um café da manhã com ela e um roteirista. Eu acredito muito na minha intuição, nos olhos, por isso que eu gosto de falar vendo as pessoas. Quando ela começou a falar, eu vi a vontade genuína de contar minha história. Não era um interesse financeiro ou de publicidade. Ela foi pesquisar, gostou e queria fazer aquilo. Aceitei no primeiro dia que conversei com ela. As pessoas que assistirem à série vão avançar no conhecimento sobre a minha vida, sobre a minha personalidade. 
 
O que o documentário vai apresentar sobre você? 
O documentário vai ser importante porque vai mostrar melhor quem eu sou. Às vezes, as pessoas não sabem por que alguém chegou naquela posição. Vai esclarecer que, desde os anos 70, sou envolvido com política. Esse é um ponto muito importante para mim, pois às vezes sou julgado porque as pessoas não conhecem a minha história. Então, nesse ponto político, será bem importante. Vai ter muita coisa de arquivo, entrevistas com pessoas que conviveram comigo. Eu sugeri vários nomes que achava interessantes para participar. Como sou uma pessoa muito intensa, tenho um relacionamento bem próximo de todas as pessoas que indiquei e elas me conhecem bem. Acho que vai ser legal também a parte da minha infância, que ninguém conhece. Nunca dei uma entrevista falando desta fase: relacionamento, crescimento, adolescência, educação...  E tem também a minha história mais dramática, que é o problema com as drogas a dependência química.
 
Do que você sente mais orgulho da sua trajetória? 
Eu tenho muito orgulho da minha formação, da educação que eu recebi e ao mesmo tempo da liberdade que meus pais perceberam que tinham que me dar. Eu tinha um instinto de liberdade muito alto. Muita coisa que aconteceu na minha vida, no passado, foi porque eu não conseguia lidar com o tamanho de liberdade que eu tinha dentro de mim. Mas até a própria liberdade tem limites para você vivê-la bem e de verdade. 
 
Qual parte da sua vida estará no documentário e você adoraria reviver? 
Eu quero rever a parte da infância, da minha pré-adolescência e juventude. Eu explodi muito cedo, com 17 anos já era uma pessoa conhecida. Então, eu tive que curtir a vida ao mesmo tempo em que era profissional. Como eu tinha esse instinto de liberdade muito grande, não abri mão de nenhuma das duas coisas: eu curti a vida e fui profissional do futebol. Quero rever esse momento. Agradeço que fiz aquilo porque eu consegui viver minha adolescência sendo jogador de futebol. Também quero rever a história da Democracia Corinthiana desde o início, pois acho que foi o momento mais marcante dentro de um clube de futebol no mundo em relação à parte política. Eu quero ver as imagens do nosso comportamento, das coisas que a gente falava, de como a gente jogava. O material terá entrevistas daquela época e estou bastante curioso para ver como eu era, aos 18 anos, pós-hippie, falando muita gíria. 
 
O que a música representa na sua vida? De onde vem sua paixão pelo rock?
A música já veio no sangue porque o meu avô, Júlio Casagrande, fazia parte da orquestra que tinha no programa da TV Cultura "O Baile da Saudade", apresentado pelo Francisco Petrônio, e  também fazia da orquestra do programa da Hebe Camargo. Eu era muito pequeno, mas ficava vendo TV e meu pai falava: “Aquele ali é seu avô”. Acho que minha paixão pela música veio daí. Além disso, minhas irmãs compravam muitos discos e meu pai também trazia muitos discos para casa porque ele trabalhava com isso. Quando eu aprendi a mexer no aparelho de som, eu comecei a ouvir todos os discos que tinha na minha casa. A primeira coisa que eu ouvi foi Beatles. Gostei, mas faltava alguma coisa para mim. Quando eu ouvi a Janis Joplin pela primeira vez, eu defini o meu estilo de vida pela voz e pelo comportamento dela. Quando eu ouvi a Janis Joplin, o Jim Morrison o Jimi Hendrix, principalmente esses três, percebi que eu era daquele jeito com uns 12, 13 anos. O rock and roll entrou muito forte na minha vida. Eu me senti um peixe fora d’água por muito tempo porque falava e me vestia de um jeito diferente de todos na roda de amigos. Comecei a achar que eu tinha problema porque não estava conseguindo me encaixar em nada. Até que, com uns 14, 15 anos, eu comecei a sair, ia em bailinhos fiz um grupo de amigos e ficávamos numa esquina batendo papo. Comecei a encontrar pessoas que também se sentiam como eu, que eram diferentes da cultura e da sociedade careta daquela época. Comecei a me identificar com essas pessoas e veio realmente a finalização de uma personalidade, do estilo e de uma filosofia de vida. 
 
O que o futebol te trouxe de mais valioso?
Eu joguei no time que eu e a família toda torcíamos,  o Corinthians. Fui campeão e artilheiro por esse clube e fui para a Seleção atuando por ele. Essa parte ligada ao futebol deu a possibilidade da minha família ter orgulho de me ver como jogador do Corinthians. Isso foi muito marcante para mim. Mas fora isso, eu não vou falar de títulos e nem de gols porque isso é uma coisa que pode acontecer com todos os jogadores de futebol. Eu quero falar é de conhecer lugares, relacionamento e comportamento. Eu tive um relacionamento com Sócrates de amor. O futebol me deu a oportunidade de conhecer muitas pessoas diferentes, de ter relações diferentes. Eu me diverti muito por causa do futebol. Ele me proporcionou conhecer boa parte do mundo como jogador e o resto do mundo eu conheci como comentarista. Foram 13 anos como jogador e já tenho 26 anos como comentarista. 
 
As pessoas vão ver como é o Casagrande fora dos holofotes, em família?
Vão, mas eu acho que vão conhecer mais o contraste da história: o Casagrande até antes do acidente que sofri e fui internado, e o Casagrande de hoje. Eu moro na Vila Madalena (São Paulo), que é um lugar supercultural, e gosto muito de ir ao teatro, ao cinema, à livraria, ao Ibirapuera. Os meus movimentos são muito próximos e sempre culturais. Eu amo a vida que tenho hoje. Acho que alcancei com muita dificuldade esse momento que eu encontrei, de verdade, a minha liberdade, que eu tanto gosto. Hoje sou livre. Meus filhos são adultos, já são casados, tenho dois netos. Sempre foi uma relação muito tranquila. Eu gosto do jeito que eu vivo, do jeito que eu me relaciono com as pessoas. Falo a verdade porque eu treinei e aprendi que precisava disso. Só falar a verdade foi uma saída para mim, uma segurança. A mentira pode me derrubar, então quando você joga aberto com as pessoas, as relações ficam ricas, gostosas porque as pessoas adquirem confiança e desenvolvem a lealdade.
 
Acha que sua história pode ajudar as pessoas?
Primeiro, no lado da dependência química, as pessoas vão ver minha história e todo sofrimento, a queda, a dificuldade, mas vão me ver voltar e reconquistar a minha vida. Eu fui para o fundo do poço e voltei. Às vezes a família não sabe o que fazer e a própria pessoa acha que não se recupera. Então, essa parte eu acho que vai mudar a cabeça de muita gente, como os livros mudaram. Outro lado, se prestarem atenção, é o da juventude, que não está no físico. Ela está mente, no coração e na alma. Eu me sinto uma pessoa jovem. Vou ser jovem a vida toda. Os meus pensamentos, minhas atitudes e minha fala são jovens. Posso estar com 100 anos, com rugas, bem velhinho e sem cabelo, mas dentro de mim vou ter uma juventude. Para ela ser eterna, você tem que alimentá-la. Eu não me sinto velho de forma alguma porque eu curto o que a juventude curte. E, na realidade, o rock and roll ajuda a manter a juventude.


Casagrande nos tempos da "Democracia Corinthiana" / Divulgação



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